quinta-feira, 3 de julho de 2008

SE NÃO ESTIVESSES

Se não estivesses ,
se a concha dos teus dedos não fizesse vibrar em mim ,
gota a gota,a tua voz,
se não esticasse os braços sobre um qualquer espaço
que nunca será nosso,
se o teu sorriso agora distendido não se mostrasse todo nos gestos do amor,
se a tua mão não procurasse a minha,
ou os meus dedos não pudessem ,
ainda que ao leve ,tocar a ponta frágil dos teus cabelos escuros
se eu não encontrasse em ti o meu olhar,às vezes ,
quando finjo que não vejo o teu olhar em mim
se os dias não fossem confortados com a ideia de que existes
sensivelmente e que , por isso ,
de alguma forma eu sou em ti a minha forma de existir
sensivelmente existes,
e que por isso , de alguma forma,eu sou em ti a minha forma de existir
estas palavras,as frases que as expõem, o poema em que tudo se articula,
no intimo sentido que só exista dentro do poema tudo o que é ainda,
o que possa caber em noz secretamente seria uma triste passagem
pelo que resta e nem os meus olhos,
e nem as minhas lágrimas diriam o que dizem
porque a mão que escreveu,
o seu último argumento,
esta na concha dos teus dedos e no gemido que atraiçoa a tua voz
{ poema de Antonio Mega Ferreira}